O teatro olímpico de Palladio
Em Vicenza, uma cidade perto de
Veneza, um teatro renascentista inigualável sobreviveu milagrosamente por mais
de quatro séculos. Uma joia escondida construída dentro de uma fortaleza
abandonada, o Teatro Olímpico dá forma ao conhecimento do período da
arquitetura romana clássica e coloca em prática desenvolvimentos artísticos
contemporâneos como a perspectiva linear.
O teatro humanista e o novo palco da Renascença
A Itália do século XVI
testemunhou a crescente popularidade do teatro como uma forma cultural e um
modo de entretenimento. Produções teatrais existiram durante toda a Idade
Média, mas consistiam principalmente de encenações religiosas encenadas em
plataformas temporárias em espaços ao ar livre, como praças da cidade.
Com o surgimento da cultura
humanista na Itália do século XV, os desenvolvimentos na arquitetura e no
design teatral andaram de mãos dadas com os modelos literários que buscavam
restabelecer as comédias e tragédias da Roma antiga. Mas os arquitetos
interessados em estudar a arte romana enfrentavam um problema: os célebres
teatros da Roma antiga haviam sido desmantelados ou transformados em espaços
utilitários durante toda a Idade Média. Felizmente, os arquitetos
renascentistas puderam estudar os escritos do antigo arquiteto romano Vitrúvio,
cujos “dez livros de arquitetura” explicavam como construir um teatro e
descreviam a decoração. Um texto extremamente influente. O próprio Andrea
Palladio ilustrou a primeira tradução italiana do tratado arquitetônico de
Vitrúvio. A partir desse livro e do estudo de antigas ruínas, os arquitetos
renascentistas foram capazes de formar uma imagem dos teatros romanos
clássicos. Esses teatros tinham uma seção de assentos semicirculares, ou
auditório, e um elaborado cenário de palco chamado Skene.
Ao mesmo tempo em que os artistas
da Renascença estudavam a arquitetura clássica, os desenvolvimentos pictóricos,
como a perspectiva linear, entraram no palco teatral do século XVI - muitas
vezes na forma de panos de fundo pintados, exibindo uma vista da cidade. Essa
inovação introduziu um afastamento quando comparado ao palco medieval, que
apresentava uma fileira de casas cenográficas representando locais bíblicos. Enquanto
as produções teatrais clássicas e medievais eram eventos populares gratuitos, o
teatro renascentista italiano era um recinto fechado e coberto construído para
as elites da corte e associações de intelectuais eruditos.
Um auditório de inspiração clássica
Palladio foi o arquiteto
renascentista mais influente. Ele também foi um membro fundador da Academia
Olímpica - um grupo de estudiosos em Vicenza que procurou recriar as produções
teatrais da antiguidade clássica. Embora o Teatro Olímpico seja o mais antigo
teatro renascentista sobrevivente, não foi o primeiro teatro permanente do
período. Também não foi o primeiro construído por Palladio, que já havia
projetado teatros em Veneza e Vicenza. O Olimpico foi, no entanto, seu projeto
teatral mais ambicioso, e que colocaria em prática seus conhecimentos de
arquitetura clássica e arte contemporânea.
O Olímpico não foi a reconstrução
de um outro teatro. Palladio projetou seu auditório de inspiração romana dentro
de uma fortaleza abandonada. Remodelar um edifício pré-existente forçou o
arquiteto a ajustar seus planos iniciais. Como resultado, e diferentemente dos teatros
romanos, a área de assentos de Palladio forma uma curva elíptica em vez de um
semicírculo. Um espaço altamente decorado, o auditório curvo é enfeitado por um
pórtico colunado adornado com esculturas de inspiração clássica.
O palco(Skene) do Teatro Olímpico
apresenta uma magnífica fachada de três andares. Profusamente decorada com
colunas clássicas, frontões, esculturas e relevos, a fachada tem cinco aberturas,
das quais a central assemelha-se a um arco triunfal. Palladio e Vicenzo
Scamozzi trabalharam com materiais limitados - usando madeira, gesso e estuque
para criar o efeito de mármore branco e polido. As aberturas concedem acesso
visual a avenidas projetadas, transmitindo a aparência de uma cidade. Construídas
usando uma perspectiva linear, as passagens aumentam a ilusão devido
perspectiva forçada que aumenta a noção de profundidade - de modo que um ator
que entra no cenário parece um gigante em relação aos prédios.
As passagens de
perspectiva são uma marca do Olímpico, mas suas origens não são claras.
Palladio morreu anos antes da inauguração do teatro, numa época em que se
esperava que a apresentação inaugural fosse uma comédia pastoral escrita por
Fabio Pace. Não foi até 1583, três anos após a morte de Palladio, que a
Academia tomou a decisão de realizar a tragédia Édipo Rei. Essa mudança exigiu
cenografia retratando uma paisagem urbana em vez de uma paisagem natural. E é
nesse período que a Academia Olímpica adquiriu os imóveis adicionais
necessários para fazer as avenidas projetadas(vistas ao fundo do palco).
Scamozzi concluiu a construção do auditório e acrescentou o design do palco,
embora talvez seguindo os desenhos produzidos por Silla, filho e assistente de
Palladio. Sejam elas produto dos desenhos de Palladio ou simplesmente
inspiradas por ele, as construções de palco da Scamozzi são extremamente
inovadoras que nada mais foi do que construir em três dimensões o que
tradicionalmente era um cenário de fundo pintado.
Depois do Olímpico
O resultado do
conhecimento antiquário e da inovação artística de Palladio e Scamozzi é um
espaço esplêndido e sedutor. No entanto, apesar de suas qualidades fascinantes,
o Teatro Olímpico rapidamente caiu em desuso após sua primeira produção. Sua
influência é palpável, no entanto, em dois teatros do norte da Itália
construídos logo após o Olimpico: o Teatro all’antica em Sabbioneta de 1590,
também construído por Scamozzi, e o Teatro Farnese em Parma de 1618.
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